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Summer 77
Atarantado pelos automóveis, meus olhos são varados pelo neon, degusto minhas doses de cinismo nos balcões molhados pelo vácuo. As mariconas fustigam meu corpo com olhares sórdidos, cada olhar fere fundo e cria crostas que se endurecem: até a noite acabar esses olhoares superpostos me tornaram imune. Avenida São Luíz e seus anjos turvos, supermaketing de pupilas frenéticas, sob as árvores o poder acaricia e intumesce caralhos languidos. Há pelos corpos em fila uma náusea imprecisa, eu vejo uma sinfonia de cusparadas e aprendo acordes sombrios com os quais devo ornar minhas pernas metidas num blue jeans rasgado. Meu camarada uns passos à frente negocia sua boca de estátua grega perfumada por conhaque e bafoardas com um pederasta untuoso que pilota uma reluzente máquina. Nos viemos do subúrbio numa progressão eufórica, beb emos várias cachaças & nossos corações acossados pela média preferem a autocorrosão, mas é assim que a cidade nos gosta. Eu vejo funcionarios públicos levemente maquiados. Eu vejo policiais que me tolhem os passos com ameaças de sevícias. Eu vejo as bichinhas evoluirem num frenesi azeitado por anfetaminas e um desespero dissimulado. As mariconas não as buscam, por isso elas exorcisam a noite com gritos e veêm nos outros rapazes um frisson de inexistentes limusines. O poder pelas esquinas gargalha. Atarantado pelo sono, embarco ríspido num carro. Logo mais, de madrugada, ejacularei catarro, voltarei no ônibus com meu amigo, adentraremos em silêncio o subúrbio sabendo que algo em nós foi destroçado.
AUTOR: FRANÇA (sem certeza).

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Fachada de civilidade

"Uma fachada de civilidade esconde nossos verdadeiros interesses, é a natureza do nosso mundo, uma civilização é uma ilusão ou um jogo de faz de conta. O que é real? E o fato de nós sermos animais conduzidos por instintos básicos. Mas ao deduzir quando alguém esta falando sobre a verdade, na realidade esta falando sobre si mesmo e não sobre o mundo. Mas talvez ter uma visão diferente seja algum tipo de patologia. Mas será que isso tem cura? Pode se tomar uma pílula para me fazer ver o mundo do jeito que a burguesia vê o mundo? Uma pílula pode me ajudar a entender o Iraque, Darfur ou Nova Orleans? Talvez uma civilização desabe quando mais precisamos dela. Dependendo da situação todos somos capazes de cometer os piores crimes. Imaginar um mundo onde isso não existe onde toda crise não resulte em uma nova atrocidade, onde os jornais não estejam cheios de guerra e violência. É imaginar um mundo onde o ser humano deixa de ser humano." Dialogo do filme Invasores.
Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhado na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair. Leia mais em: https://super.abril.com.br/especiais/a-era-da-burrice/ 
Eu tenho medo e medo está por fora, o medo anda por dentro do meu coração. Eu tenho medo de que chegue a hora em que eu precise entrar no avião. Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão, apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão. Faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão. Medo, medo. Medo, medo, medo, medo. Eu tenho medo de Belo Horizonte eu tenho medo de Minas Gerais. Eu tenho medo que Natal Vitória eu tenho medo Goiânia Goiás. Eu tenho medo Belém do Pará eu tenho medo Pai, Filho, Espírito Santo São Paulo. Eu tenho medo eu tenho C eu digo A eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife. Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá eu tenho medo estrela do norte, paixão, morte é certeza. Medo Fortaleza, medo Ceará. Medo, medo. Medo, medo, medo, medo. Eu tenho medo e já aconteceu eu tenho medo e inda está por vir. Morre o meu medo e isto não é segredo eu mando buscar outro lá no Piauí Medo, o meu boi morreu, o que ser