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Summer 77
Atarantado pelos automóveis, meus olhos são varados pelo neon, degusto minhas doses de cinismo nos balcões molhados pelo vácuo. As mariconas fustigam meu corpo com olhares sórdidos, cada olhar fere fundo e cria crostas que se endurecem: até a noite acabar esses olhoares superpostos me tornaram imune. Avenida São Luíz e seus anjos turvos, supermaketing de pupilas frenéticas, sob as árvores o poder acaricia e intumesce caralhos languidos. Há pelos corpos em fila uma náusea imprecisa, eu vejo uma sinfonia de cusparadas e aprendo acordes sombrios com os quais devo ornar minhas pernas metidas num blue jeans rasgado. Meu camarada uns passos à frente negocia sua boca de estátua grega perfumada por conhaque e bafoardas com um pederasta untuoso que pilota uma reluzente máquina. Nos viemos do subúrbio numa progressão eufórica, beb emos várias cachaças & nossos corações acossados pela média preferem a autocorrosão, mas é assim que a cidade nos gosta. Eu vejo funcionarios públicos levemente maquiados. Eu vejo policiais que me tolhem os passos com ameaças de sevícias. Eu vejo as bichinhas evoluirem num frenesi azeitado por anfetaminas e um desespero dissimulado. As mariconas não as buscam, por isso elas exorcisam a noite com gritos e veêm nos outros rapazes um frisson de inexistentes limusines. O poder pelas esquinas gargalha. Atarantado pelo sono, embarco ríspido num carro. Logo mais, de madrugada, ejacularei catarro, voltarei no ônibus com meu amigo, adentraremos em silêncio o subúrbio sabendo que algo em nós foi destroçado.
AUTOR: FRANÇA (sem certeza).

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