Pular para o conteúdo principal
Hoje sinto orgulho de dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade - eu pertenço à terra! [...] Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, inicitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transforma a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça para baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corroi as entranhas [...] E tudo quando fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e a ausência de vida. [...] Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronterias hamanas, porque se humano parece uma coisa pobre, triste, miseravel, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos.

Henry Miller - Trópico de Câncer

Postagens mais visitadas deste blog

O coração, se pudesse pensar, pararia... Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será ...

Diário de bordo I

Existe uma coisa curiosa neste mundo moderno. Estamos em meio a tanta informação que essa quantidade exagerada e sem um controle para adquiri-los, faz com que se crie um ser humano codificado com um tipo de conhecimento digno de ser estúpido. A grande massa de informações, que vem como tiro por todos os lados dos seus sentidos, acentuando a isso uma grande quantidade de resposta que ele é obrigado a dá, mais um tanto outro de perguntas para suas ações diárias que, não se admira que esse homem não passa de um compilador sem inteligência. Não há tempo hábil para que esse homem reflita sobre o que ele consome, esse alimento lhe chega a boca e nem chega a ser degustado. Logo ele apenas vomita o que acabou de engolir. Não há neste mundo homens de verdade? Seres pensantes? Será que todos eles se esconderam em mascaras e atrás da gaia ciência aplicada? Onde podemos encontrar os filósofos de outrora? Viveremos décadas diante deste silencia intelectual? Acredito que eles estarão embebedando-se ...
Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhado na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair. Leia mais em: https://super.abril.com.br/especiais/a-era-da-burrice/