Pular para o conteúdo principal
Vou ao balcão. Peço uma cerveja em lata. O ano é início de 2005, eu acho. Ficou ali observando as pessoas como se eu fosse apenas um telespectador sem um controle remoto nas mãos, sem interação com o meio, e eu me odeio por isso. Ainda há pouco eu estava envolto a um tipo de euforia que a muito eu não sentia. Eu estava olhando o céu estrelado e achando o máximo, sentindo toda uma adrenalina invadindo meu corpo. Estava pronto para extravasar ao mundo. Minha cerveja está acabando, assim como a minha euforia de agora a pouco, penso nas mulheres, peço uma coca-cola, sei que se eu continuar bebendo farei uma das minhas inúmeras e pecaminosas situações de desdouro, e isso é quase certo, assim como é quase certo que o sol nascerá amanhã. Ela acabou de chegar junto aos seus. Alguém lhe diz que estou no balcão, ela não me procura com os olhos, dissimula uma indiferença e continua falando, puxa vida, como algumas mulheres falam!. Logo ela levanta e com a intenção de ir ao banheiro, passa pelo balcão onde estou. Disfarça e faz uma cara de supressa, vem ao meu encontro e me cumprimenta, ou não seria supressa? Trocamos alguns murmúrios, ainda vejo em sua face toda aquela coisa bonita que só encontramos nos jovens e que eu perdi a muito tempo. Ela entra no banheiro, me animo em tomar mais uma cerveja. Na sua volta ela me murmura mais alguma coisa, no entanto, toda a minha euforia agora já se dissipou por completo, perdeu-se tal qual o gosto da cerveja em minha boca. Há algo meio chato no ar, estou com sono, pensamento longe dali, perdido em algum lugar ilusório do futuro, já abro a boca em um bocejo de sono, procuro por uma coca-cola e peço minha conta. Ao sair, olho para ela cercada por vários caras, existem nos olhares sobrepostos nela um interesse sexual avultado, fantasiado por sentimentos de amizade. Por um momento ela me olha, eu lhe faço um gesto de adeus, ela por sua vez, balança a cabeça em uma negativa e seus lábios me pedem, em um gesto que mais parece uma suplica, para não ir. Eu balanço a cabeça negativamente, me viro e vou embora. Vou com a sensação de que algo me foi tirado sem permissão, como se eu me encontrasse no cinema e o filme tivesse sido interrompido. Por um momento penso nela beijando um daqueles caras no final da noite. Seria um deles, não eu. Penso na única coisa que me pertence, minha vontade, minhas crenças e meu desejo (ou não seria ao contrário?). Dirijo até em casa com certo ar de vitória. Não busquei mentir para mim mesmo. Só penso no amanhecer e quem sabe um outro dia eu não seja novamente visitado por esse estado de euforia momentâneo, do qual fui submetido ainda há pouco.
AUTOR: JB

Postagens mais visitadas deste blog

O coração, se pudesse pensar, pararia... Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será ...

Diário de bordo I

Existe uma coisa curiosa neste mundo moderno. Estamos em meio a tanta informação que essa quantidade exagerada e sem um controle para adquiri-los, faz com que se crie um ser humano codificado com um tipo de conhecimento digno de ser estúpido. A grande massa de informações, que vem como tiro por todos os lados dos seus sentidos, acentuando a isso uma grande quantidade de resposta que ele é obrigado a dá, mais um tanto outro de perguntas para suas ações diárias que, não se admira que esse homem não passa de um compilador sem inteligência. Não há tempo hábil para que esse homem reflita sobre o que ele consome, esse alimento lhe chega a boca e nem chega a ser degustado. Logo ele apenas vomita o que acabou de engolir. Não há neste mundo homens de verdade? Seres pensantes? Será que todos eles se esconderam em mascaras e atrás da gaia ciência aplicada? Onde podemos encontrar os filósofos de outrora? Viveremos décadas diante deste silencia intelectual? Acredito que eles estarão embebedando-se ...
Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhado na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair. Leia mais em: https://super.abril.com.br/especiais/a-era-da-burrice/