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O coração, se pudesse pensar, pararia... Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.
AUTOR: Fernando Pessoa

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Fachada de civilidade

"Uma fachada de civilidade esconde nossos verdadeiros interesses, é a natureza do nosso mundo, uma civilização é uma ilusão ou um jogo de faz de conta. O que é real? E o fato de nós sermos animais conduzidos por instintos básicos. Mas ao deduzir quando alguém esta falando sobre a verdade, na realidade esta falando sobre si mesmo e não sobre o mundo. Mas talvez ter uma visão diferente seja algum tipo de patologia. Mas será que isso tem cura? Pode se tomar uma pílula para me fazer ver o mundo do jeito que a burguesia vê o mundo? Uma pílula pode me ajudar a entender o Iraque, Darfur ou Nova Orleans? Talvez uma civilização desabe quando mais precisamos dela. Dependendo da situação todos somos capazes de cometer os piores crimes. Imaginar um mundo onde isso não existe onde toda crise não resulte em uma nova atrocidade, onde os jornais não estejam cheios de guerra e violência. É imaginar um mundo onde o ser humano deixa de ser humano." Dialogo do filme Invasores.
Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhado na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair. Leia mais em: https://super.abril.com.br/especiais/a-era-da-burrice/ 
Eu tenho medo e medo está por fora, o medo anda por dentro do meu coração. Eu tenho medo de que chegue a hora em que eu precise entrar no avião. Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão, apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão. Faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão. Medo, medo. Medo, medo, medo, medo. Eu tenho medo de Belo Horizonte eu tenho medo de Minas Gerais. Eu tenho medo que Natal Vitória eu tenho medo Goiânia Goiás. Eu tenho medo Belém do Pará eu tenho medo Pai, Filho, Espírito Santo São Paulo. Eu tenho medo eu tenho C eu digo A eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife. Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá eu tenho medo estrela do norte, paixão, morte é certeza. Medo Fortaleza, medo Ceará. Medo, medo. Medo, medo, medo, medo. Eu tenho medo e já aconteceu eu tenho medo e inda está por vir. Morre o meu medo e isto não é segredo eu mando buscar outro lá no Piauí Medo, o meu boi morreu, o que ser